Leitura
de um texto
Por Francisco Platão Savioli[1].
Interessa a todos saber que
procedimento se adotar para tirar o maior rendimento possível da leitura de um
texto. Mas não se pode responder a essa pergunta sem antes destacar que não
existe para ela uma solução mágica, o que não quer dizer que não exista solução
alguma. Genericamente, pode-se afirmar que uma leitura proveitosa pressupõe
além do conhecimento linguístico propriamente dito, um repertório de
informações exteriores ao texto, o que se costuma chamar de conhecimento de
mundo. A título e ilustração observe a questão seguinte, extraída de um
vestibular da UNICAMP:
1 - Às vezes, quando um
texto é ambígüo, é o conhecimento de mundo que o leitor tem dos fatos que lhe
permite fazer uma interpretação adequada do que se lê. Um bom exemplo é o texto
que segue:
"As videolocadoras de
São Carlos estão escondendo suas fitas de sexo explícito. A decisão atende a
uma portaria de dezembro de 1991, do Juizado de Menores, que proíbe que as
casas de vídeo aluguem, exponham e vendam fitas pronográficas a menores de 18
anos. A portaria proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a motéis e rodeios
sem a companhia ou autorização dos pais." (Folha Sudeste, 6/6/92)
É o conhecimento linguístico
que nos permite reconhecer a ambiguidade do texto em questão (pela posição em
que se situa a expressão sem a companhia ou autorização dos pais permite a
interpretação de que com a companhia ou autorização dos pais os menores podem
ir a rodeios ou motéis). Mas o nosso conhecimento de mundo nos adverte de que
essa interpretação é estranha e só pode ter sido produzida por engano do
redator. É muito provável que ele tenha tido a intenção de dizer que os menores
estão proibidos de ir a rodeios sem a companhia ou autorização dos pais e de frequentarem
motéis.
Como se vê, a compreensão do
texto depende também do conhecimento de mundo, o que nos leva à conclusão de
que o aprendizado da leitura depende muito das aulas de Português, mas também
de todas as outras disciplinas sem exceção.
Três
questões básicas
Uma boa medida para avaliar
se o texto foi bem compreendido é a resposta a três questões básicas:
I - Qual é a questão de que
o texto está tratando? Ao tentar responder a essa pergunta, o leitor será
obrigado a distinguir as questões secundárias da principal, isto e, aquela em
torno da qual gira o texto inteiro. Quando o leitor não sabe dizer do que o
texto está tratando, ou sabe apenas de maneira genérica e confusa, é sinal de
que ele precisa ser lido com mais atenção ou de que o leitor não tem repertório
suficiente para compreender o que está diante de seus olhos.
II - Qual é a opinião do
autor sobre a questão posta em discussão? Disseminados pelo texto, aparecem
vários indicadores da opinião de quem escreve. Por isso, uma leitura competente
não terá dificuldade em identificá-la. Não saber dar resposta a essa questão é
um sintoma de leitura desatenta e dispersiva.
III - Quais são os
argumentos utilizados pelo autor para fundamentar a opinião dada? Deve-se
entender por argumento todo tipo de recurso usado pelo autor para convencer o
leitor de que ele está falando a verdade. Saber reconhecer os argumentos do
autor é também um sintoma de leitura bem feita, um sinal claro de que o leitor
acompanhou o desenvolvimento das ideias. Na verdade, entender um texto
significa acompanhar com atenção o seu percurso argumentatório.
[1] Francisco Platão
Savioli é Professor e Autor de Português do Ânglo Vestibulares e também
Professor Assistente Doutor de Língua Portuguesa, Redação e Expressão Oral do
Departamento de Comunicações e Artes da ECA-USP.
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